Turim

09/07 – Sábado

Se eu estivesse no Brasil, teria gritado de desespero ao ver que precisava acordar às 5h da manhã para pegar o trem para Turim. Eu estava feliz, pensando que ao meio-dia estaria sentada em um bom restaurante, saboreando pratos típicos enquanto apreciava a vista do nordeste da Itália. Será que eu poderia estar mais errada?

A viagem de trem deveria durar apenas quatro horas, mas levou SETE horas. Quando o trem passou por Verona, perguntei a uma garota italiana por que estava demorando tanto, e ela estava tão angustiada quanto eu. Disse que o trem estava parando em todas as estações, como se seguisse um horário regional em vez de um horário InterCity (o que significa que o trem deveria ir direto para Turim, parando apenas em Verona e Milão).

Quando cheguei a Turim, já passava das quatro da tarde, e o hotel ficava longe do centro histórico, perto das montanhas nevadas. Vi neve pela primeira vez na vida no topo daquelas montanhas, mas, como era verão, não pude tocá-la a menos que decidisse escalar… mas isso não fazia parte do meu roteiro.

De qualquer forma, como já era tarde, desfiz rapidamente a mala para sair e ver a cidade à noite, mas, infelizmente, começou uma tempestade… e não era qualquer tempestade, era A tempestade. Você já viu uma tempestade elétrica? É linda! Um pouco assustadora, mas maravilhosa!

Decidi ir ao bar tomar um cappuccino quente, já que não podia sair. Eu estava muito chateada por ter perdido um dia inteiro da minha viagem cara, sentada no bar, pensando nas maneiras mais dolorosas de matar o responsável pelos horários dos trens… Alguns caras entraram e se sentaram perto de mim, rapidamente começaram a perguntar sobre mim e de onde eu era. Quando disse que era brasileira, falaram que podiam conversar em espanhol se fosse melhor para mim. Recusei e disse que precisava treinar meu italiano.

Perguntei a eles sobre a neve nas montanhas (estava conversando mais com Paolo, e os outros dois comentavam uma coisa ou outra de vez em quando). Queria saber por que ainda havia neve, já que era verão e devia estar cerca de 30°C naquele dia. Ele disse que a neve nunca derretia completamente, não importava o calor que fizesse, pois as montanhas continuavam muito frias (bem, eu já sabia disso, só que as montanhas não pareciam tão altas).

No final, voltei para o meu quarto e resolvi dormir. Abri a janela e fiquei observando a neve até pegar no sono.

10/07 – Domingo

Agora eu entendo por que a neve não derrete… Nossa… Durante a noite, faz MUITO frio aqui. Acordei às seis da manhã e estava cerca de 10°C… e eu só tinha um casaco fino!!!

Não me importei com o frio, chamei um táxi e fui para o centro histórico da cidade. Meu plano era atravessar a Via Roma até o Palácio Real e depois visitar o Museu do Cinema. Todas as lojas estavam fechadas e as poucas pessoas que caminhavam pelas ruas vestiam casacos bem pesados.

Passei pelas Piazza Carlo Felice e Piazza San Carlo até chegar ao Palazzo Madama. O exterior tem um tom bege, com detalhes românticos e estátuas; parece ter cerca de trezentos anos. Infelizmente, muitos cômodos estavam fechados para restauração, mas o que vi já foi o suficiente para me deixar sem fôlego.

Quando entrei no palácio, a guia turística me levou por uma escadaria enorme com estátuas dos líderes mais importantes da cidade e depois me conduziu a um cômodo muito escuro, dizendo para eu esperar ali enquanto ela acendia as luzes. Assim que as acendeu, me senti transportada para um livro de contos de fadas. Eu estava no meio de um salão de baile com inúmeras velas (na verdade, eram lâmpadas em formato de velas) e lustres pendurados nas paredes. Nem na minha imaginação mais selvagem eu teria sido capaz de imaginar algo assim.

Caminhei pelo palácio iluminado como se estivesse andando nas nuvens. Havia vidro, cristais, tesouros, pinturas por toda parte. Os aposentos reais também faziam parte do itinerário. Vi a sala do trono, o banheiro, os quartos, mas o mais impressionante foi a sala de jantar. A mesa era enorme, com porcelanas, pratos e talheres perfeitamente arrumados. Suspirei e me apoiei em uma cadeira para admirar a vista… e o alarme começou a tocar por todo o palácio. A guia turística virou-se para mim e disse para NÃO tocar em nada, nem mesmo naquela cadeira de duzentos anos. Foi tão embaraçoso.

O palácio terminava com a escadaria projetada por Juvarra. Infelizmente, não me permitiram subir para os outros cômodos, então tive que deixar o palácio, mesmo que pudesse passar mais cinco horas lá dentro.

Depois, fui até o Duomo di Torino, que fica na rua de trás do palácio. Essa igreja é famosa por um pedaço de tecido que supostamente envolveu o rosto de Jesus. Muitas pessoas ainda acreditam nesse tecido, mesmo depois de ter sido cientificamente provado que ele é falso (tem apenas quinhentos anos). Como não sou religiosa, fiquei mais interessada na arquitetura da igreja e nos inúmeros túmulos belíssimos. O interior era praticamente todo vermelho e dourado, com tantas pinturas, estátuas e velas que dava uma sensação medieval… parecia sombrio e opressor.

Finalmente cheguei ao Museu do Cinema!

Me senti como uma criança entrando em uma loja de doces. Vi os storyboards originais de Star Wars, bonecos de efeitos especiais, a capa do Superman, o chapéu de Charles Chaplin e tantos figurinos que ocupavam mais de três andares. Vi as primeiras câmeras, os primeiros projetores, lâmpadas mágicas, sombras chinesas e um cenário de Buñuel que era simplesmente deslumbrante.

Depois de tanta coisa incrível, me sentei para almoçar em um restaurante muito fofo em frente ao museu. Mas não quis perder tempo, então fui direto ao Museu Egípcio.

A única vez que tive a chance de ver algo sobre o Egito foi há cerca de quatro anos, quando alguns artefatos vieram para São Paulo – e, naquela época, eu não vi uma única múmia! Nunca!

Assim que entrei no museu, vi uma múmia dentro de um vidro, deitada em posição fetal. Finalmente, minha primeira múmia! Continuei explorando sarcófagos, esfinges, até que cheguei a uma sala enorme cheia de múmias. É inacreditável o quão bem preservadas elas estão. Parece que não têm mais de três mil anos. É incrível. Eu queria tanto tocar em uma delas…

No fim do dia, estava satisfeita. Me sentei em uma praça ensolarada (precisava descongelar os dedos de alguma forma) e tomei um sorvete de menta. Em seis meses, Turim será a sede dos Jogos Olímpicos de Inverno e já dá para ver algumas estruturas sendo preparadas para os atletas. Eu não me interesso por esportes, mas adoraria ter a chance de escalar aquelas montanhas… Está anoitecendo, e amanhã sigo para Gênova. Melhor voltar para o hotel.

The historic Baroque architecture of Palazzo Carignano in Turin, Italy captured during the day.

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