Há uma certa obrigação, especialmente entre aqueles que entendem de cinema, de gostar de todos os filmes indicados ao Oscar. Parece que admitir que um filme não funcionou para você é quase um tabu. No entanto, é inegável que a premiação tem passado por uma fase estranha.
Tecnicamente, os filmes estão mais impressionantes do que nunca. Os efeitos visuais, a mixagem de som, a fotografia – tudo atinge um nível de excelência altíssimo. Mas, quando olhamos para roteiro e direção, parece que estamos andando para trás. Os filmes estão cada vez mais cautelosos, com medo de serem honestos e genuinamente inovadores. Todos querem ser disruptivos, mas poucos realmente têm coragem de contar histórias impactantes de forma autêntica.
Um bom exemplo disso é Substância. O filme tenta fazer uma crítica, mas opta por um caminho sensorial exagerado, focado no grotesco e no nojo. A mensagem, que poderia ser poderosa, acaba soterrada pelo desconforto visual. O longa poderia ter sido mais sutil e duradouro, deixando um impacto mais profundo, ao invés de apenas provocar repulsa momentânea.
O mesmo acontece com Maria, estrelado por Angelina Jolie. O filme se perde na paranoia da protagonista e não traz uma reflexão marcante sobre sua história. O potencial estava ali, mas a narrativa não se sustenta.
E então temos Emilia Pérez, que chegou com grande hype e foi recebido como uma obra revolucionária, mas, no fim, revelou-se raso. A representação de uma atriz trans no Oscar é, sem dúvidas, um marco importante, mas as polêmicas envolvendo declarações xenófobas da atriz expuseram um descuido maior: a falta de respeito e profundidade na abordagem da cultura mexicana. Isso levanta um ponto delicado sobre como algumas produções são enaltecidas sem uma análise crítica mais profunda.
Além disso, esse medo de errar parece estar impactando não apenas o cinema autoral, mas também grandes estúdios como Disney e Pixar. O receio do cancelamento tem levado a narrativas cada vez mais genéricas, onde a ousadia artística cede lugar à cautela extrema.
O Oscar deveria celebrar histórias corajosas e bem contadas, mas, nos últimos anos, muitos filmes indicados parecem estar se protegendo mais do que arriscando. E talvez seja hora de questionarmos essa necessidade de gostar de tudo apenas porque está na corrida da premiação.
