25/07 – Segunda-feira
O trem chegou às 9h30 na estação central de Palermo. Tive alguns problemas para encontrar o hotel porque Palermo é enorme e as informações que eu tinha estavam erradas. Precisei pegar um metrô para chegar ao hotel (que ficava longe do centro histórico).
A Sicília foi o cenário de muitos acontecimentos históricos importantes, já que foi lar de árabes, gregos, romanos e palco de muitas batalhas sangrentas, além de um centro de desenvolvimento artístico.
Hoje eu estava tão cansada que decidi apenas caminhar por Palermo, parando em cafés e sendo o mais preguiçosa possível. Minhas pernas doíam por causa da escalada de ontem. Meu plano inicial era ir a pé até Monreale, mas simplesmente não consegui. Espero que amanhã eu me sinta melhor para ir.
Todo mundo sabe que a Sicília, nos últimos dois séculos, desenvolveu as famosas histórias da Máfia (sim, O Poderoso Chefão). Mas isso não é algo que se vê simplesmente andando pelas ruas, não tem Don Corleone recebendo beijos nas mãos por aí. Não que eu esperasse ver isso, mas seria interessante. Só um devaneio dos contos de fadas tomando conta da minha mente racional por um instante ou dois.
De qualquer forma, da Estação Central começa a rua de compras mais famosa de Palermo, a Via Roma (se você reparar, quase todas as cidades por onde passei têm uma rua chamada Via Roma). Como era segunda-feira, a maioria das lojas estava fechada, então visitei praças e igrejas.
A Igreja de Santa Caterina é um grande exemplo das transformações do estilo barroco em Palermo. Bem em frente a ela fica a Piazza Pretoria, onde está localizada a Fontana Pretoria, construída por volta do século XVI.
Foi uma visita legal, mas nada extraordinário… até eu encontrar o Duomo de Palermo. É uma das mais belas obras de arquitetura da cidade. É enorme e tem um brilho dourado ao seu redor.
Acima, há um arco que conecta a igreja ao Palácio do Bispo. Foi a primeira vez que vi um arco assim.
Dentro do Duomo, a decoração me lembrou algo um pouco islâmico, fascinante, com um altar de prata e veludo roxo. Os túmulos dos reis da Sicília estão ali, incluindo Frederico II, Henrique IV e Rogério II (junto com suas esposas).
Há uma sala com o tesouro imperial, acessível por uma escada estreita e pequena. O lugar estava completamente deserto, exceto pela senhora que me vendeu o ingresso para entrar na igreja e na sala do tesouro. Era quase como uma igreja assombrada—foi a primeira vez que não vi turistas por perto. Eu estava sozinha naquela igreja imensa e magnífica, e isso me deixou extasiada além do que eu poderia explicar.
A sala do tesouro não abriga apenas as joias dos reis, mas também os tesouros de todos os bispos da Sicília. Cruzes gigantes de ouro, bíblias douradas com pedras preciosas, anéis de diamantes e rubis, coroas e vestes feitas de ouro. Havia um anel de esmeralda e prata que devia ter uns cinco centímetros de diâmetro (não estou exagerando!) com o símbolo imperial do século XII. A coroa da rainha também era magnífica.
Saindo da sala do tesouro, entrei em uma sala vazia com uma mesa enorme, achando que era o caminho de volta para a nave principal. Mas, de repente, me vi perdida em outro cômodo, depois em mais outro, e não havia ninguém para me guiar para fora.
Foi então que vi uma placa escrita “este caminho leva à cripta”. De alguma forma, meu desejo interno de estar em um filme de terror despertou, bloqueando qualquer alerta que restava da minha mente supersticiosa.
Eu estava obcecada.
Encontrei uma abertura no chão com uma escada estreita, paredes empoeiradas e escuras que me levaram para debaixo da fundação da igreja. Parecia um filme de vampiros, ou até mesmo um filme de múmias, por causa das cores e das tochas penduradas nas paredes amarronzadas. O teto era baixo e quase sufocante, mas o que me fez sorrir foi ver mais de cinquenta túmulos empoeirados bem ali na minha frente—e não havia ninguém por perto, então eu podia explorar e tocar tudo que quisesse.
Eu nem me importei se havia vermes e insetos por ali. Eu estava cega de êxtase! Li todas as inscrições nos túmulos. Alguns estavam ali desde o século XI, e os mais recentes tinham sido enterrados há cerca de duzentos anos. Algumas inscrições haviam sido apagadas pelo tempo, então não consegui ler todas, mas basicamente todos os bispos da Sicília estavam ali, dentro de seus túmulos de pedra, parecendo vampiros adormecidos.
O ambiente era bem escuro, mas eu ansiava por ainda mais escuridão e coisas assustadoras. Foi quando encontrei uma pequena porta. Para passar, precisei abaixar a cabeça, e assim que entrei, não conseguia enxergar absolutamente nada. Mas eu não resisti. Liguei minha câmera e caminhei pelo corredor estreito, descrevendo o silêncio ensurdecedor, a textura das paredes e o cheiro de poeira antiga. Então, esbarrei em algo.
Não conseguia ver o que era, então toquei com as mãos para tentar identificar. Não era muito alto, chegava um pouco acima dos meus joelhos, e parecia um caixão de pedra.
Por que um caixão estaria ali, no fim de um corredor escuro? Seria porque ninguém deveria vê-lo? Quem estaria ali dentro? Mas eu não encontrei respostas. Tentei contornar o túmulo para seguir pelo corredor, mas cheguei a um beco sem saída. Parecia que aquele corredor havia sido construído apenas para esconder aquele único túmulo.
Então, voltei pelo corredor, saí da cripta, observei mais alguns túmulos e fui embora. Encontrei o caminho de volta para a nave principal e deixei a igreja. Passei cerca de uma hora sentada no lindo jardim do lado de fora da igreja. Estava tão cansada das atividades de ontem que mal tive forças para voltar à estação de metrô.
Acho que já eram umas 19h quando consegui voltar para o hotel. O sol ainda estava alto, mas tudo o que eu precisava era de um longo banho de espuma para recuperar minhas energias. Jantei um sorvete de menta e agora estou pronta para dormir… às 21h, com o sol ainda brilhando na minha janela.
