Lembro-me de quando surgiu o ChatGPT em 2023. Tive a impressão de que o mundo parou para observar e aprender a utilizá-lo.
Na época, fazia parte de uma comunidade de artistas que logo ficaram amedrontados com a possibilidade de serem “copiados”, de terem seus estilos plagiados e suas artes reproduzidas à exaustão.
Gifs e imagens censurando e denunciando quem postava conteúdo gerado por IA se multiplicaram nos perfis que eu seguia. De certa forma, entendo o medo. Como artista, fico receosa de que utilizem meu estilo e minha voz para escrever histórias que atraiam um grande público.
Mas, ao mesmo tempo, sei que é um caminho sem volta. Da mesma forma que os taxistas protestaram contra o surgimento da Uber, não podemos nos iludir ao ponto de acreditar que a arte voltará a ser o que era. Assim como a Mona Lisa foi reproduzida em livros, jornais, revistas e no cinema, mas a verdadeira obra continua atraindo milhões de turistas ao Louvre, a arte passará por transformações, mas sua essência permanecerá.
Por anos, divulguei meus textos e histórias, e até mesmo entreguei meus livros gratuitamente, rezando para que alguém talentoso se encantasse a ponto de fazer uma fanart que eu pudesse compartilhar, gerando engajamento e atraindo mais público. Porém, isso não aconteceu. Tenho uma limitação: não venho de uma família rica, trabalho quase 12 horas por dia e sou mãe. Ou seja, apesar de saber desenhar, não tenho o tempo necessário para produzir material de qualidade com a rapidez e a agilidade alucinantes que a era do Reels e do TikTok demandam para que eu tenha ao menos uma chance mínima de sucesso.
Então, me rendi. Uso IA para criar as cenas das minhas histórias e ter o que postar todos os dias. Não posso contar com tempo livre nem com artistas de bom coração que nunca surgiram para me apoiar. A IA otimizou meu tempo e me deu uma chance de ser vista.
Não serei hipócrita. Claro que não me agrada tomar esse caminho. Se minha vida mudasse e eu tivesse condições, selecionaria artistas e encomendaria ilustrações por todos os lados. Mas essa não é minha realidade hoje.
Estamos, sim, em uma era cruel, de concorrência por tempo de visualização. A IA veio para ficar, e só sobreviverá no mercado de trabalho quem souber usá-la de maneira adequada.
Eu traduzo meus próprios livros usando IA. O resultado inicial não é bom. Preciso traduzir os textos mecanicamente para depois ajustar tom, voz e expressões. Preciso ler tudo, passar por um processo de edição e quase uma curadoria de palavras, para que as intenções sejam adaptadas ao texto original.
Como tenho uma leve dislexia, a IA me ajuda a enxergar erros de digitação que eu não notaria tão rapidamente. Ela otimizou meu trabalho. Não acredito que vá tirar meu emprego, mas sim me colocar em outro patamar: o de gerente de respostas.
