Florença

15/07 – Sexta-feira

Florença é o paraíso. Bem… o paraíso dos turistas, mas ainda assim… Mal se vê italianos por aqui, as ruas estão lotadas de japoneses, americanos, franceses. É inacreditável.

Acordei bem cedo. Meu quarto de hotel era ENORME, com uma banheira gigante e uma cama king-size, então dormi como um bebê! Acordei cheia de energia e fui direto para Santa Maria del Fiore.

A história dessa catedral é magnífica. Sua construção começou por volta de 1296, porque Siena e Pisa haviam construído novas igrejas, e Florença quis competir. A obra só foi concluída em 1418, após vários artistas talentosos trabalharem nela, incluindo Giotto e Pisano. Em 1419, um concurso foi realizado para projetar a cúpula da catedral, e Filippo Brunelleschi criou o icônico design octogonal de paredes duplas.

A construção da cúpula começou em 1420 e foi concluída em 1436. Ela é conhecida como o “teto de Florença”, porque, de onde quer que você olhe, sempre consegue vê-la.

A catedral tem o formato de uma basílica, com uma nave e duas laterais formando uma cruz romana. Seu tamanho é impressionante: 153 metros de comprimento, 38 metros de largura, e 90 metros na área central. Do chão até a abertura da lanterna da cúpula, também são 90 metros. Essa é a quarta maior igreja da Europa.

Florença é a cidade do Renascimento. Grandes artistas passaram suas vidas aqui: Maquiavel, Dante Alighieri (ok, ele foi expulso da cidade, mas ainda conta…), Petrarca, Michelangelo, Botticelli, Donatello, entre outros. Muitas obras dentro da catedral homenageiam esses artistas, como a pintura Dante e a Divina Comédia.

Sou muito curiosa, então perguntei se era possível subir até o topo da cúpula. Descobri que sim, desde que pagasse uma taxa e esperasse um grupo de pelo menos dez pessoas, pois não é permitido subir sozinho. Achei que subir a antiga escadaria medieval seria divertido… Mas acabei subindo mais de mil degraus em espiral. Quando cheguei ao topo, fiquei tonta… Bem, quase no topo. Primeiro, parei no corredor circular ao redor da pintura de Vasari e Zuccari, podendo literalmente tocá-la. Mal sabia eu que ainda havia mais escadas para subir.

O interior da cúpula parecia um cenário de filme medieval. Os corredores eram escuros e iluminados por lâmpadas amareladas (substituindo as antigas tochas). Passei por portas de ferro gigantes e empoeiradas, trancadas com enormes chaves. Fiquei imaginando o que havia do outro lado. Livros proibidos? Corpos? Instrumentos de tortura da Inquisição?

Finalmente, alcancei o topo por uma escadaria assustadoramente estreita da qual quase caí. Mas, quando saí, tive uma visão de tirar o fôlego: Florença inteira se estendia diante de mim. Fiquei emocionada. Estava no coração da ciência e da arte.

Só podíamos ficar ali por quinze minutos, e logo os seguranças pediram para descermos. No caminho… me perdi! Sério! Desci aquela escadaria estreita até a parte externa da cúpula, mas, quando entrei de novo, todo mundo tinha sumido!

Andei pelos corredores vazios e poeirentos, parecendo um filme de terror. Peguei um caminho errado e acabei voltando ao ponto de partida. Então ouvi vozes ecoando pelas paredes e as segui, finalmente encontrando o grupo do outro lado da cúpula. Corri até eles e prometi a mim mesma que não me perderia de novo.

Depois de passar tanto tempo lá dentro, saí para ver o Batistério e o Portão do Paraíso, que Michelangelo tanto admirava. Em Florença, parece que cada estátua foi esculpida por um artista famoso—Donatello, Da Vinci, Rafael, e tantos outros.

Meus pés já estavam me matando, mas não queria perder tempo, então segui para a Galleria dell’Accademia, onde está o Davi de Michelangelo. Esperei mais de uma hora na fila para ver essa obra-prima renascentista. A estátua tem 5,17 metros de altura e foi esculpida em mármore em três anos. Originalmente, ficava ao ar livre na Piazza della Signoria, exposta ao tempo, mas, em 1991, foi atacada por um vândalo que destruiu seus dedos dos pés.

É uma escultura impressionante. Fiquei ali por uns vinte minutos, admirando cada detalhe. As mãos são incrivelmente realistas, cada ruga perfeitamente esculpida. Lembrei-me da famosa frase de Michelangelo: “Vi um anjo no mármore e esculpi até libertá-lo.” Foi exatamente isso que ele fez com Davi.

Saí do museu no final do dia, exausta, mas feliz. Voltei ao hotel explorando as ruas e praças, tomando um gelato de menta com chocolate granulado. Até o sorvete aqui é melhor que o do Brasil!

16/07 – Sábado

Hoje, caminhei até o outro lado de Florença, ao longo do rio Arno, até chegar à Ponte Vecchio, uma ponte medieval, a única que não foi bombardeada na Segunda Guerra Mundial. Há uma história interessante sobre essa ponte: dizem que o conceito econômico de falência se originou aqui: quando um comerciante não conseguia pagar suas dívidas, a mesa em que ele vendia suas mercadorias (o “banco”) era fisicamente quebrada (“rotto”) pelos soldados, e essa prática era chamada de “bancorotto” (mesa quebrada; possivelmente vem de “banca rotta”, que significa “banco quebrado”). Não tendo mais uma mesa, o comerciante não conseguia vender nada. Infelizmente, a explicação só faz sentido em inglês.

Ao longo da ponte, há várias lojas que vendem joias finas, muito caras e lindas, esculpidas em ouro e pedras preciosas. Eu realmente queria comprar uma pulseira que vi lá, custava 50 euros e, sinceramente, achei barato porque provavelmente seria capaz de vendê-la por três vezes mais cara no Brasil. Não comprei, porém; decidi apressar-me para a Galleria degli Uffizi.

A Uffizi é um palácio que tem milhares de obras de arte famosas. Começou a ser construída em 1560 por Vasari para a Família Medici (uma família poderosa que praticamente dominava Florença na época). Depois, se tornou um famoso museu moderno. É enorme e eu levei mais de cinco horas para ver tudo. Em 1993, uma bomba de carro explodiu do lado de fora do museu, danificando algumas esculturas na sala de Niobe. Dizem que foi a máfia, mas ninguém sabe ao certo.

De qualquer forma, na foto acima, pode-se ver que há várias colunas e, em uma delas (de ambos os lados), está uma escultura de um artista. É uma maneira bonita de esperar na fila para entrar no museu, vendo todos os Mestres do Renascimento ali, sustentando as paredes do museu. É muito poético.

Quando entrei no museu, fiquei surpresa com três andares e enormes corredores com estátuas, que tinham várias portas para cada galeria. Andei por cinco horas e não vi tudo.

E quando escolhi uma porta e entrei, fiquei impressionada com pinturas por todos os lados.

A pintura que eu queria muito ver era O Nascimento de Vênus, de Botticelli. Lembro quando vi pela primeira vez uma foto dessa pintura no ensino fundamental… lembro de ter passado a aula inteira olhando a foto, completamente seduzida pelos olhos de Vênus. Botticelli foi inspirado pela arte grega clássica, pintando uma deusa pagã que era o símbolo da beleza.

A pintura conta a história de Vênus, surgindo da água numa concha como uma pérola e sendo levada até a praia pelos Zéfirios, símbolo da paixão, e coberta por Áurea, a deusa das estações. Foi pintada em 1483 e, surpreendentemente, não foi queimada junto com outras várias obras pagãs.

Minha favorita, junto com as pinturas de Botticelli, foi Vênus de Urbino de Tiziano.

Quando saí da Uffizi, estava morrendo de fome (já eram 17h! E eu não comi nada desde o café da manhã), então fui direto para o outro lado da rua, a um restaurante maravilhoso, e comi a melhor lasanha desde Veneza.

Voltei para a Uffizi e a atravessei para chegar ao outro lado, onde estava a Piazza della Signoria, uma praça que tem estátuas famosas e onde o Davi de Michelangelo ficou por séculos (agora há uma réplica no seu lugar). É um museu a céu aberto.

Há muitas obras por ali, ao redor de Davi está a Fonte de Netuno, Judith e Holofernes, de Donatello e tantas outras. Do outro lado, está uma bela coleção com minhas estátuas favoritas. Desde Davi, a estátua de Perseu com a Cabeça de Medusa, de Cellini, me capturou por mais de dez minutos.

E então, havia O Rapto das Sabinas, que também era magnífico.

Bem, acho que é tudo sobre a praça, foi um lugar onde costumavam pendurar e queimar pessoas há quinhentos anos e hoje é um lugar lindo para se visitar. Gostaria de saber mais sobre História da Arte, com certeza teria aprendido muito mais do que aprendi hoje.

17/07 – Domingo

Acho que usei o que restava das minhas forças para caminhar todo o caminho através do rio Arno até o Palazzo Pitti, a antiga residência da Família Medici. Não imaginei que o palácio fosse tão grande, deveria ter imaginado, mas é muito maior do que o Palácio dos Doges em Veneza! Claro que é necessário pagar para entrar, então comprei ingressos para a Galleria Palatina (que tinha mais pinturas famosas), Apartamenti Reali (Salas Reais) e Giardino Boboli (Jardim Boboli).

A Galleria Palatina fica no primeiro andar e possui mais de quinhentas pinturas renascentistas, incluindo obras de Caravaggio, Rafaello, Tiziano, Veronese e muitos outros. Dentro dos Apartamentos Reais, pude ver muitos artefatos históricos; entrei nos quartos, closets, salões de baile e até no banheiro! A Sala do Trono brilha com ouro puro e veludo vermelho. A decoração em todos os lugares era impressionante demais para absorver de uma só vez. Eu não conseguia acreditar o quão rico em história e cultura aquele lugar era.

Esta é a Sala de Vênus, um dos salões de baile que se tornou uma galeria.

E este é o teto da Sala Branca, a maior em que entrei até agora, com enormes lustres.

De qualquer forma, assim que voltei ao pátio, segui para os Jardins… e eu não fazia ideia de como eram enormes. O jardim é outro espaço de arte, como tudo em Florença; os lagos possuem fontes e estátuas de Bernardo Buontalenti e foram projetados por Ammannati e pelo próprio Vasari.

Comecei a ver as fontes, subi escadas, andei e andei… e, quando percebi, estava perdida. Eu não fiquei assustada porque sabia que estava perto do palácio, então continuei caminhando e brincando sozinha (realmente, me senti como uma criança) até que me vi seguindo caminhos longos e já não conseguia mais ver o palácio. Não fazia ideia de para onde estava indo… e estava começando a escurecer.

Não havia ninguém por perto, e eu já estava perdida há duas horas, com os pés me matando! Vi algo se movendo bem longe e pensei que fosse um animal, então talvez o dono estivesse por perto. Corri e encontrei um gatinho perdido. Corri atrás dele e, quando ele atravessou o caminho para o outro lado, vi que havia voltado ao palácio. Fiquei muito aliviada e decidi voltar para o hotel — meus pés estavam implorando por um banho quente e uma massagem.

Mais tarde, já na banheira, peguei o mapa de Florença e vi o tamanho real do jardim. Não é de se admirar que tenha passado tanto tempo andando por lá.

18/07 – Segunda-feira

Estou exausta. Mal consigo andar e, ainda assim, decidi dar uma última volta por Florença para ver o último lugar que precisava visitar antes de partir amanhã de manhã: a Igreja de Santa Croce. Levei o dobro do tempo para chegar lá, já que estava praticamente rastejando.

A praça em frente à igreja tem uma grande estátua de Dante Alighieri. O motivo pelo qual eu queria entrar nessa igreja era porque os artistas que mais admiro estão enterrados lá. O exterior da igreja lembra a catedral de Santa Maria del Fiore, só que menor. Aqui está uma comparação:

A igreja é muito grande e quase vazia, parece que não há obras de arte suficientes para preencher as paredes, e os turistas praticamente a ignoram. O ambiente é um pouco escuro, e alguém estava tocando uma música que me lembrou uma antiga marcha fúnebre (eu adorei!). Então comecei a caminhar entre as pinturas, estátuas e túmulos, que também são verdadeiras obras de arte! Donatello pintou A Anunciação na parede sul, Giotto fez afrescos na Capela Peruzzi, Henry Monroe fez um trabalho incrível no Primo Chiostro, e Vasari esculpiu belíssimas esculturas.

Parecia que eu precisava parar e absorver cada uma delas. A primeira foi o túmulo de Michelangelo, feito por Vasari, que fez um trabalho impressionante. Eu nunca tinha ouvido falar dessa obra antes, então não sei exatamente o que Vasari quis expressar com aquelas esculturas, mas, para mim, pareciam símbolos de inspiração chorando a morte do mestre dos mestres. Eu realmente chorei, parada ali. Não sei dizer se foi pelo fato de ele estar morto, pelo seu corpo estar ali diante de mim, ou pela expressão de dor nos olhos das estátuas.

Também parei para admirar o túmulo de Galileu Galilei, Ugo Foscolo, Maquiavel, Rossini e Dante, que tem um belo túmulo, mesmo que seu corpo não esteja lá — ele morreu em Ravena.

No fim das contas, Santa Croce é um lugar maravilhoso, com seu imenso corredor ladeado por túmulos dos gênios que mudaram o mundo com arte, e não com guerra.

Explore the stunning architectural masterpiece of Santa Maria del Fiore's Duomo in Florence, Italy.

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