26/07 – Terça-feira
Hoje peguei um trem pela última vez. Agrigento é uma cidade a apenas uma hora e meia de Palermo, então deixei minhas malas no hotel e, às 7h da manhã, já estava viajando para o sul da Sicília para ver os templos gregos mais famosos que existem aqui.
Além dos templos gregos, Agrigento tem um habitante ilustre: o romancista Luigi Pirandello.
A temperatura estava incrível, pelo menos 43°C, e eu estava vestindo uma saia que comprei em Roma e uma blusa preta que quase me fez desmaiar. Com certeza, é a cidade mais quente da Itália até agora (ainda bem que, por vir de um país tropical, aguento bem o calor, senão já estaria morta).
De qualquer forma, meu único objetivo aqui era visitar o sítio arqueológico do Valle dei Templi (Vale dos Templos), e realmente valeu a pena vir até aqui.
Assim que cheguei, vi os templos no topo das colinas e as ruínas espalhadas por toda parte. Esta cidade é bem pequena (apenas 57 mil habitantes), e os gregos viveram aqui há cerca de dois ou três mil anos. Diz a lenda que Dédalo foi quem fundou a cidade. Agrigento ficou fora do conflito entre Atenas e Siracusa e, depois da queda do Império Romano, passou para as mãos do Império Bizantino.
A região do vale parece mais um deserto. É árida, seca, cheia de areia por todos os lados. O lugar é um complexo de ruínas, e algumas estruturas estão surpreendentemente bem preservadas, mesmo tendo sido saqueadas século após século, principalmente pelos cristãos no século VI, que acusavam os templos de serem obras pagãs. A natureza também não ajudou muito, com terremotos destruindo o que restava.
Primeiro, fui ao Templo de Hefesto, que está completamente destruído, restando apenas algumas colunas no chão. Depois, fui ao Templo de Castor e Pólux, que foi reduzido a três colunas na beira de um penhasco. O Templo de Zeus devia ser imenso, pois vi algumas estátuas enormes caídas no chão, impossíveis de identificar se você não for um arqueólogo.
O Templo da Concórdia é o mais intacto, mas, obviamente, os turistas não podem entrar. Os historiadores dizem que o único motivo pelo qual os cristãos não o destruíram foi porque ele foi convertido em uma igreja. Quando foi construído, era de um branco puro, mas agora está amarronzado, completamente coberto de poeira. De um lado, há um penhasco com vista para o mar Mediterrâneo azul. O Templo de Juno fica um pouco mais acima e, assim como o da Concórdia, está praticamente intacto, no alto da colina, longe dos meros humanos e acessível apenas aos deuses.
Eu já estava morrendo de sede e precisando de um banho quando desci o penhasco e, para minha sorte, havia banheiros e fontes de água corrente para os turistas nos subterrâneos das catacumbas. Praticamente me banhei naquela fonte! Saí de lá encharcada, mas renovada para o resto do dia.
As catacumbas são outro campo bagunçado, quase impossível de caminhar. Caí de bunda duas vezes e, depois disso, não precisei de muito incentivo para ir embora. Eu adorei os templos, sério, mas não consigo andar por mais de seis horas depois de ter escalado o Vesúvio.
Peguei o ônibus de volta para a estação e, depois, mais uma hora e meia de viagem para retornar a Palermo, deixando a linda Agrigento para trás.
No caminho para o hotel, parei em uma padaria e comi a maior fatia de pão com gotas de chocolate da minha vida! Depois disso, caí morta na cama.
07/27 – Quarta-feira
Eu queria muito visitar Monreale hoje, mas, como é meu último dia aqui, decidi ser um pouco generosa e comprar alguns souvenirs para minha família e amigos (até agora, só comprei coisas para mim). Então, acordei tarde, tomei café da manhã no hotel e saí para explorar as lojas.
Comprei camisetas, saias, livros (encontrei uma livraria enorme e não queria sair de lá!). Voltei para a Via Roma e depois peguei um caminho alternativo pela Via Maqueda, onde fica a La Martorana, uma igreja medieval construída por volta do século X. Essas ruas são muito famosas por suas lojas típicas sicilianas. O Mercado da Vucciria é uma rua estreita e cheirando mal, onde se encontra todo tipo de presunto, vinho, peixe, queijo e pratos caseiros sicilianos.
Passei pelo Oratório de São Lourenço e queria muito entrar, mas estava acontecendo um casamento, e achei que não seria legal ter turistas andando por aí no meio da cerimônia. Além disso, eu estava carregando umas vinte sacolas – impossível explorar uma igreja daquele jeito.
Às 15h, lembrei que ainda não tinha almoçado, então decidi ter minha última refeição na Itália em um restaurante chique, com a autêntica culinária siciliana (não tenho jantado há dias). Pedi uma carne no espeto com tanta pimenta que precisei de duas latas de Coca-Cola para acompanhar, mas estava incrível! Uma das melhores coisas que provei aqui. O segundo prato foi um espaguete com um molho siciliano maravilhoso! Eu parecia tão feliz com a comida que até o garçom me perguntou se era minha primeira vez provando esses pratos (meu italiano estava tão bom que ele nem percebeu que eu não era italiana!). Nem preciso dizer que fiz amizade com o garçom, e ele até sentou na minha mesa para conversar enquanto eu comia.
Fiquei tão cheia que mal conseguia andar (e carregar aquelas sacolas idiotas) de volta para o hotel. Quando cheguei, já passava das 19h, ou seja, só me restavam dez horas para aproveitar o solo italiano.
Ainda tinha uma tarefa antes de dormir: colocar tudo de volta na mala e fazer caber nos sacos. Enrolei tudo que era de vidro (tantos perfumes!) no meio das roupas – aliás, minhas roupas estavam imundas! Só percebi quando dei uma boa olhada nelas. Nunca mais vão ficar limpas!
Tive que sentar em cima da mala para fechá-la e ainda fiquei com a sensação de que esqueci alguma coisa.
Quando terminei, já eram 21h e meu voo sai amanhã às 8h… ou seja, preciso acordar às 5h, chamar um táxi e ir para o aeroporto.
Pelo menos sei que posso dormir no avião…
28/07 – Quinta-feira
Oh, não! Estou num avião de volta ao Brasil, esse país que não tem nada a ver comigo!
O primeiro voo saiu de Palermo e fez escala em Florença. Depois, troquei de avião e fui de Florença para Madri (Espanha). Esperei lá por mais três horas, desejando poder simplesmente fugir e aproveitar minha última chance de nunca mais sair da Europa!
Encontrei alguns brasileiros conversando sobre as férias e passei minhas últimas horas na Europa observando as pessoas. Isso é tão deprimente.
Agora estou no avião de volta para São Paulo e tenho umas dez horas de voo pela frente. Se contar desde que saí de Palermo, já são 18 horas de viagem.
Voltar para a realidade do Brasil vai ser mais difícil do que imaginei. Você não pode simplesmente se acostumar com o glamour, as tardes preguiçosas em cafés e museus, e depois voltar para o Brasil, onde passa duas horas preso no trânsito todas as manhãs para ir trabalhar, onde as pessoas te olham como se fosse um pedaço de carne e onde pode ser assaltado ou até sequestrado a qualquer momento por alguns trocados.
