A Verdadeira Dor é um filme surpreendentemente bom. Desde a sinopse, eu já sabia que ia gostar, pois o tipo de história que ele se propõe a contar me atrai bastante. O longa é dirigido por Jesse Eisenberg, que mais uma vez interpreta o papel de um jovem tímido e socialmente inadequado – algo que ele faz muito bem. Já Kieran Culkin entrega uma atuação que, em certos momentos, lembra seu personagem em Succession: alguém que transita entre a arrogância e a sinceridade brutal.
Culkin interpreta um personagem que parece não se importar com o que os outros pensam, mas que ao mesmo tempo diz verdades desconfortáveis. Ele oscila entre o desapegado e a compaixão, trazendo diálogos que ferem, mas que também são necessários. Esse contraste faz dele um dos personagens mais instigantes do filme.
A trama acompanha dois primos judeus que viajam para a Polônia para visitar a antiga casa da avó recém falecida e percorrer um tour pelos campos de concentração. A jornada já é, por si só, carregada de peso histórico e emocional. No grupo turístico, há um guia britânico que não é judeu e, por isso, faz comentários superficiais sobre a experiência. Outros integrantes incluem uma mulher recém divorciada, um casal de sucesso que busca suas raízes de maneira aparentemente rasa e um homem que se converteu ao judaísmo na vida adulta, conectando-se profundamente com as histórias de genocídio devido à sua própria experiência como sobrevivente do genocídio de Ruanda.
Um dos momentos mais impactantes do filme acontece quando o personagem de Kieran Culkin reflete sobre a desconexão entre o sofrimento real dos antepassados e a experiência confortável dos descendentes no presente. Ele aponta que, enquanto seus familiares foram transportados para os campos de concentração em condições desumanas, eles agora fazem esse trajeto em um trem de primeira classe. Essa contradição ilustra a complexidade da memória histórica e do privilégio adquirido ao longo das gerações.
A Verdadeira Dor não é um filme raso. Ele provoca incômodo, levanta questões difíceis e nos faz refletir sobre a forma como nos relacionamos com o passado. Ao mesmo tempo, é uma experiência cinematográfica envolvente e bem construída, diferenciando-se de tantos outros filmes que apenas tocam na superfície desses temas.
