Ontem, recebi uma notícia difícil: uma amiga tirou a própria vida. A primeira coisa que me perguntei foi: por que a família nunca a colocou em terapia? Pelo que me lembro, ela nunca fez.
E, no entanto, ela era como eu, como você, como todos nós. Uma pessoa com sonhos, bonita, mãe de duas crianças pequenas. Mas que, de alguma forma, não conseguia se encaixar no ideal que nos é exigido.
Ela sempre buscou a perfeição – estética impecável, relacionamentos bem-sucedidos, estabilidade financeira. Mas nunca parecia ter tudo ao mesmo tempo. E, principalmente, nunca teve o que talvez fosse mais essencial: a sensação de pertencimento, de que era suficiente exatamente como era.
Quando soube da sua decisão, a primeira palavra que me veio à mente foi: coragem. Porque, como alguém que já enfrentou a depressão inúmeras vezes, eu entendo a exaustão que vem com a sensação de não caber no mundo.
Não, eu nunca cheguei ao ponto em que ela chegou. Mas confesso que, muitas vezes, me pergunto se vale a pena seguir vivendo sob regras que nos esmagam.
Ser obrigado a conviver com pessoas que nos fazem mal. Trabalhar até a exaustão e ainda assim não ter o básico. Engolir humilhações, aceitar injustiças, sorrir quando se quer sumir.
E, acima de tudo, abrir mão de quem somos para sermos aceitos por um sistema que nunca parece satisfeito.
Eu mesma só continuo aqui porque, em vez do desespero, caí no cinismo. Prefiro fazer piadas ácidas e resistir mais um pouco para ver se consigo mudar alguma coisa.
Mas eu me pergunto: por que precisa ser assim?
Por que é tão difícil nos aceitarmos? Por que nos exigem tanto ao ponto de nos fazer desistir?
Viver em sociedade deveria significar apoio, não opressão. Mas, muitas vezes, parece que o mundo nos pratica um bullying silencioso, exigindo que nos encaixemos, que sigamos padrões impossíveis, que nos tornemos outra pessoa para sermos “dignos” de amor e pertencimento.
Minha amiga não encontrou esse pertencimento. Espero que suas filhas consigam. Espero que elas cresçam sabendo que não precisam ser nada além do que já são.
E espero que nós também aprendamos isso. Antes que seja tarde.